março 09, 2015

Vai o sossego, voltam as palavras

Acende o cigarro, pega a mochila, joga as roupas, carrega o peso da fuga. Será mais fácil de levar que a realidade? Consigo visualizar a cena de mais uma desistência para meu currículo. A consciência é forte como uma bigorna - e dá uma enxaqueca das brabas. "Cabeça-dura". Recua.

Guardo esses poréns viscerais, deixo expostas feridas que o tempo me abriu. Tenho tatuadas todas as perdas. Talvez eu sempre escreva sobre o luto do amor. Deus, como eu queria sentir aquela felicidade sofrida outra vez. Entre um dia nublado e uma madrugada de chuva, eu me sinto tão vazia que respirar é desafio. Aí me ocorre o desejo medíocre e desesperado de amarelar o sorriso. Já não lembro como é.

Morar na liberdade pode ser um tanto solitário. Eles sequer sabem que não inventei de ser livre, apenas me encaixei aqui. Literalmente. E da caixa a vida parece distante. É como se eu observasse os fatos da superfície, em uma constante apuração para reportagem.

Às vezes, duvido que existo. Talvez não me reconheça neste papel coadjuvante de uma obra planejada para triunfar. Meus enredos mal cabem no roteiro. A verdade é que ninguém escolhe que gênero de filme a vida será.

Um pouco da nossa infância morre quando crescemos e vivemos o oposto do que nos fizeram acreditar. Eu queria descobrir o que mereço. Que se for isso, a cama já pode me sepultar.

Um comentário:

Lídia disse...

Acho que não escolhemos, realmente, o gênero de filme que a vida será... O importante é que não seja sempre o mesmo, né?! Imagina que pesadelo viver num filme de comédia... Nós, seres humanos, e a nossa eterna capacidade de satisfazer a insatisfação, acabamos negando a previsibilidade cinematográfica e apostando na imprevisibilidade da vida... Ou seria o contrário? Enfim... Sem achar respostas em dias ruins, caso a cama tente e insista em prender, vale um bom filme até o sol nascer no dia seguinte...