abril 15, 2013

Manhã pra ser inteira



Um dia acordei. Lavei o rosto. Enxuguei o tempo. Sequei o silêncio. Coloquei a roupa mais bonita. Pincelei o rosto com as cores do equilíbrio. No cabelo tentei dar nó, mas ele não me deixa dar mais que uma volta. Abri a janela. Nem notei o céu. Então, saí.

Um dia acordei. Recheei minhas malas. Enxuguei as lágrimas. Derramei dor no silêncio. Não lembro que roupa usei, mas a sensação de usada me vestiu bem. No cabelo um nó seguido de outro e eu sem lucidez pra desembaraçar o que o tempo fez comigo. Então, saí.

Um dia acordei. Ainda deitada, descobri que não aprendi a dividir, nem somar, multiplicar e sei lá o que é subtrair. Lavei o rosto, enquanto meu gato espiava de perto o que eu fazia. Não saí do pijama. Pensei em desfazer os nós do cabelo, mas notei que já era tempo de desatar o que tinha entre a garganta e o esôfago. Então, não saí. Pensei. Escrevi.

Um dia, outro dia, qualquer dia, até que venha a noite. Permitir, o desafio. Contrair, a sensação. Vomitar, a consequência. De manhã. O dia inteiro. Eu, pela metade. Não mais. Não ainda. Nem outra vez.