dezembro 11, 2012

Curtas

talvez
se
quando

aquela que chega
sempre certa
quando ponteiro do tempo
marca os números tortos
cadê a placa?
não sei ler horas

qual é o tempo
sobre o período
da tua alma?

com que frequência
visitas
o caminho
da minha porta?

te olho e vejo
outro rosto
não o mesmo
com desgosto
mas um outro
que não é teu

que a estrada me guie
por onde o meu guidom
não quiser
curvar

outubro 16, 2012

Bruta

Meu jeito brusco de buscar me rabisca o peito e não me inventa em nada
Minha busca não tem rascunho e rabisca o mais robusto dos brutos
Daí me olho e me desfaço como quem busca entender sutilmente
o impulso quase brusco de querer buscar
Coração rabiscado já é bruto e é sempre brusco quando quer se levantar
Brutalidade breve, mansa
Ou é agora ou é nunca e é sempre nunca quando sou brusca ao inventar
de não querer buscar
Mas o que eu quero - o que quero? Quando quero invento de buscar bem brusca
E rabisco o que encontro na tentativa de inventar
um jeito menos brusco no rascunho do que sou
Como quem ama que cega a busca de não ser brusca a pedra bruta do amor

setembro 18, 2012

Tempestade inconsciente

Em dias de chuva percorremos corredores internos e abrimos portas de lugares que não visitamos com frequência. Geralmente, são quartos escuros. Ambientes cheios de poeira que, por alguma inclinação, não recebem atenção frequentemente. A chuva nos coloca em posição direta de reflexão. Se a rotina não permite este foco os intervalos entre tarefas se encarregam de fazer a mente voar. Dia de chuva é dia de faxina.

Quando damos por nós estamos fitando as paredes, esperando respostas. Respostas que não vêm de perguntas conscientes. Esperamos entender coisas, pessoas e situações que em dias de sol aceitamos não terem razão ou sentido. Aceitamos porque ignoramos. Quando há chuva não há espaço para pensamentos rasos. Acredito que dias cinzas chegam, ironicamente, para iluminar. Ao fazermos esse passeio interno reconhecemos cada enfermidade. Focamos no que foi interrompido e, com sorte, conseguimos sarar alguma dor.

Nuvens escuras nunca se instalam sozinhas. Basta observar. Elas precisam umas das outras, como uma família. Como ovelhas que sempre andam em grupos. Talvez o motivo seja a própria fragilidade de uma nuvem. Sozinha ela não se sustenta. Não se encontra. Sozinha ela apenas vaga no céu. Vaga como o sensível cordeiro quando é separado de seu rebanho. Não há nuvem que resista ao sol. O choro de todas elas juntas, durante a tempestade, é quase desesperador. No entanto, ele não é retórico. Há momentos em que só a força de uma enorme tempestade para nos fazer realocar a intensidade que tanto depositamos em coisas, pessoas e situações erradas.

setembro 13, 2012

Tanto


Tem dia que pesa mais. Tem fase que a cruz parece de ferro. Tem noite que a nuvem atrai mais que a lua. Tem hora que o relógio parece parar. Tem momento que a escuridão sobrepõe a luz. Tem suspiro que precisa de silêncio. Tem silêncio que parece enlouquecer. Tem surto que é doentio. Tem lágrima que parece inundação. Tem gente que não sabe chorar. Tem excesso que borra o sangue. Tem sangue que precisa de agulha. Tem agulha que assusta olho. Tem olho com medo de pele. Tem pele de tanta cor. Tem cor que falta em tanta gente. Tem tanto que é tão pouco. Tem tão pouco que é sempre quase. Tem tanto dentro de mim. Tanto que precisa ser suave. Tem nada que é libertador. Tem gente que entende nada. Tem tanto que mancha a gente. Tem mancha que só fogo apaga. Tem fogo que parece não aquecer.

julho 09, 2012

Desproposital

E quando a retina do peito
Engole a seco a súplica da pálpebra
O arrepio imuniza o pensamento
E o todo vira cor
Na nudez de quem tem medo

Continuação

A tua luta é sequer efêmera
Ela começa quando eu chego
E termina quando tu me olhas

Dublê

Queria ser cover de mim
E cavar até o fundo
Pra descobrir o que há na minha escuridão
Sem me decepcionar com o que encontrar
Sem saber sorrir apenas por o que há lá
Queria ser cover de mim
Pra poder viver meus sonhos
Sem deixar de sonhá-los
E ser assim
Só mais um alguém que me conhece
Sem dó ou orgulho de mim
Apenas
Um ensaio do que sou
Um cover, uma cover
Uma imitação que dobra as expectativas
E no fim
Não mata a fome
Mas ronca o estômago
Como a embalagem bonita de um remédio
Com prazo efêmero de luta

junho 05, 2012

Um menino



Ouvi uma história muito triste ontem. Uma história que aconteceu há algum tempo. Talvez alguns dias. A história de um menino que não queria mais ficar trancado entre as paredes de casa. Um menino que ficou preso nos muros que ele mesmo construiu. Um menino como outros tantos que não sabia mais caminhar. Que não achava a solução. Foi chamado de louco por não saber as respostas. De uma forma desesperada e triste o menino tentou voar. Mesmo sabendo que possuía asas curtas e que logo seu corpo encontraria o concreto. Os gritos do menino embalavam sua passagem pelo ar. Acho que gritava pra sentir um pouco de vida entrar pelos poros; pelos olhos. A vida que ele bloqueou de entrar ao se fechar pro mundo. A porta que ele trancou quando o mundo lhe deu as costas. De repente, o céu lhe responderia. Então, ele abriu o corpo pro universo. Até que caiu. Só um menino. Um menino que buscava por outra forma de vida. Viu no ar uma nova fonte. Um menino que pagou um preço alto por ir ao topo de seu limite. Lá de cima ele viu sua vida despencar. A nova vida lhe custou a capacidade de pisar no chão com os próprios pés. Só um menino. Um menino como a gente. Um menino que precisava de ajuda pra se reerguer. Um menino que teve os sonhos roubados pela dor. A história muito triste de um menino que não sabia voar. Um menino que ainda precisa de ajuda pra caminhar.

maio 31, 2012

Considerações finais

Desde que comecei a buscar pela felicidade me tornei menos interessante.
Antes, eu não me importava.
Eu apenas vivia.

maio 29, 2012

Comprimido

Perigo
É o abrigo
Que acolhe
A falta
De sorriso

Chuva na capital

Se acomodar na incerteza
É deixar a solidão entrar
Mas solidão deveria possuir
Um espaço só seu
Que não invadisse nenhum lar
E não possuísse ninguém
Quem não possui nada seu
De incertezas vive
Solidão incerta
É a certeza mais triste

maio 24, 2012

Submersão



De onde vim, pra onde fui
Um vazio gelado se fez de um assobio
Agudo e belo como canta a dor
Silencioso e turvo como a passagem de uma lágrima
Misterioso e tenso como a espera da certeza
Logo, assim, me torno quem não conheço
Como quem vomita as entranhas
Só com o suspiro de um sorriso
Que ninguém enxerga o que é
Pois não entende por que vive
Quando esquece o que já foi

maio 07, 2012

Entre estrelas e saudade



caminhei, caminhei, caminhei e só vi estrelas
um caminho iluminado não sei por quem
talvez por mim
talvez seja eu
talvez é minha luz transbordando pelo poros uma alegria e um alívio desconhecidos por tantos e que tanto eu vi saudade
há uma felicidade
saudade de senti-la dançando em minhas veias como a música que entra por um ouvido e não sai pelo outro até eu me permitir parar de senti-la
quando sentir é novamente meu verbo
e pensar volta a ser minha habilidade
outra vez a liberdade
tão única e também a única que não quero decifrar
se é substantivo ou adjetivo se é minha ou se é rima
liberdade pra sentir e liberdade pra pensar
liberdade pra caminhar e liberdade pra ver estrelas
liberdade pra gargalhar
liberdade pra engolir a seco e a molhado o que nei lisboa cantou nos versos daquele cd que não para de tocar no som e retumbar no que eu te digo
e te tropeço e me derrubo e caio sempre na mesma esquina
eu só queria entrar na dança
e acabei sem ritmo
e com um copo vazio e um pulmão cheio me despeço e volto a ser
assim como quem não fez muito
assim como quem dói
assim como quem descansa
assim como quem não quer sentir outra saudade de ser
assim feliz

abril 27, 2012

Reflexiva

Não consigo me conformar em estar inconformada.

abril 11, 2012

Agora e durante


Vem aqui, precisamos conversar. Na verdade, eu falo por nós duas. Então, deixa que eu vou até aí. Aliás, agora, o meu lugar é contigo. Bom, vou ir direto ao ponto. É que essa brincadeira tá ficando séria. Amanhecer em ti se torna cada vez mais envolvente. Tuas cores, teu cinza, teus traços, tua sombra, tua história me fascinam. És única e és tantas. És plural até no nome. O jeito que o sol reflete em ti e que a chuva te molha são encantadores. Te vejo tão segura e tu me pegas, geralmente, tão confusa. Percorrer tuas curvas é sempre um desafio diferente pra uma novata como eu. Tens um brilho próprio e todos que são teus - sim, és dona de todos eles - te amam de uma forma avassaladora. São teus fiéis. E eu sou quase tua súdita. Cheguei até ti com data certa pra te deixar. E agora? Como consegues ser tão cruel e tão bela, ao mesmo tempo? Ei, me conta. Me conta mais de ti. Não és de muitas palavras, eu sei. O que mostras fala por ti. Mas, queria te ouvir. Qual seria o tom da tua voz? Músicas, eu sei, tens várias. Eles sempre te cantam. Parece que nunca vou conseguir te conhecer por inteiro. És como uma ilha e eu sou tua companhia. Os outros são pura solidão. Assim fica difícil te abandonar. Assim nos vejo juntas. Por favor, não me olha do alto da tua sabedoria. Já me sinto pequeninha demais contigo. Tens alma de índio e coração de tango. Tens sede de justiça e pouco dinheiro no bolso. Tens caos até quando serena. Tens orgulho próprio e humildade disfarçada, o que atrapalha nosso diálogo – porque, tu sabes, eu não fico pra trás. Mas, por agora, tens a mim. Completamente. E eu tenho a ti. Pouco a pouco. E agora é o que importa, Buenos Aires.

março 19, 2012

Medo do engano



Como a gente se engana. Acha que gosta de Medicina, quando ama História. Tem certeza que conta com a melhor amiga, mesmo após conhecê-la ontem. Sente que encontrou sua alma gêmea, enquanto ela prefere ficar na companhia da lua. A gente está carente. De laços, de afetos, de ideais. Enquanto isso, outros carregam em si uma coragem assustadora, capaz de praticar as mais improváveis atrocidades. Depois do caso da menina que foi queimada pelo companheiro - por razões que jamais serão justificáveis -, parei pra pensar nisso: como a gente se engana. Seja em um relacionamento amoroso, profissional, de amizade ou de companheirismo. A gente se engana com as pessoas e consigo mesma.

É sabido, não precisa acontecer muita coisa pra termos o próprio nome na ponta da língua até de quem nem ou mal conhecemos. É como se as pessoas sentissem prazer em distribuir a fraqueza da gente entre risadas, comentários maldosos ou atos cruéis. Mas, afinal, o que leva uma pessoa a ser invejosa? Qual o benefício em querer prender alguém em uma relação que já faliu? Muito já ouvimos falar: as pessoas estão doentes; o mundo está doente. E a gente continua a se enganar. A se iludir.

Eu ainda não descobri como, mas algumas pessoas conseguem nos invadir alma adentro e roubar a nossa paz. Furtam nossa segurança e até a lucidez. Estraçalham nossas expectativas com palavras rudes de tom seco e provocam uma infecção nas ideias. Pessoas que possuem o poder de embriagar a nossa razão com doses de manipulação, a ponto de nos fazer esquecer que somos amáveis. Eu ainda não sei de que forma e nem o motivo, mas tem gente que consegue transformar o carinho em dor.

Por enquanto, eu também não sei como está aquela menina. E só de pensar que ela é apenas um novo caso, já me apavoro o suficiente. Com o mundo. Com as pessoas. E assim a gente vive: com medo. Medo de andar a noite e ser violentada, medo de confiar e ser traída, medo de se entregar e ser humilhada. Medo de dizer não e virar cinza. Eu espero que ela fique bem, rezo por isso. E rezo pra que a gente não perca a fé e, sim, abandone o medo. Pois é absurdo parar de viver por causa do medo. O mundo gira precisando de mais coração. E a gente precisa de muita saúde pra ser humano. De novo.

fevereiro 26, 2012

Aérea a vagar



Distraída, confusa, tensa.
Escrevendo diariamente e perdendo a inspiração para qualquer som.
É como se algo doesse em sua vida, mas não sabe o quê.
Menos, ainda, imagina que medicação pode curar. Se pode.
Se é abraço, afago, carinho, palavra, sorriso ou choque.
Ultimamente, fica longe da dupla grito e discussão.
Sente tanto, por qualquer voz e palavra.
Os olhos vazios de miragens logo são preenchidos pela água salgada.
Perde um pouco do doce de si para o amargo alheio.
Cala silêncio com indiferença.
Olha para dentro.
Ainda não enxerga o que há em si.
Crise, que sejas tu.
E estejas só - de passagem.

fevereiro 23, 2012

Paradoxo erudito

Vestida de exclamação

Para salientar a interrogação

Sobre o ponto final