fevereiro 17, 2011

Tic-tac

Precisando de injeção de ânimo. Querendo incontrolavelmente uma mudança repentina com adjetivos positivos. Exausta do cansaço. Desistindo do presente. Sem fé no futuro. Inconformada. Sensível. Sem paciência. Ansiedade em nível máximo. Palavras feito bomba relógio trancadas na garganta e explodindo como lágrimas. Sono de dia. Insônia a noite. Necessitando mais tempo. Procurando espaço. Levando a sério auto controle. Respirando. Contando. Duas semanas sem cigarro. TPM. Definem.

Parêntese

Irreconhecível
Me procuro lenta
Nos teus escuros.
Como te chamas, breu?
Tempo.
(Hilda Hist: Da Morte, Odes Mínimas)

fevereiro 16, 2011

Uma dica


No início da semana, passei na locadora e peguei um estoque de filmes sobre máfia. A maioria clássicos, mas que por motivo ou outro ainda não assisti. Antes de sair de lá, dei uma olhada na prateleira do lado. Filmes com capas ternas, cores frias e rostos sorridentes. Passei os olhos, as mãos, li algumas sinopses, reconheci outras. Um deles me instigou. Na capa tinha George Clooney. Um George Clooney grisalho, com sorriso de meia idade e charme que a juventude não carrega. Ao lado dele, também sorridente, uma loira aparentando ter a mesma idade. Ambos em sintonia. A tradução do título me pareceu tão brega, nada condizente com a embalagem sedutora. Levei.

Ontem, depois de um dia cansativo e estressante, preparei o clássico chimarrão da tardinha e coloquei o tal Amor Sem Escalas no DVD. Logo de início, me apaixonei pela fotografia. Então, pelos figurinos - não chamo isso de futilidade. Quando aprecio a roupagem é por que sinto ator/atriz a vontade, em harmonia com personagem, como se este fosse pessoa real e não fictícia. Me fiz entender? -, caí de joelhos pelo descrente Ryan e fui positivamente surpreendida com a atuação de Anna Kendrick, atriz que ainda não conhecia, no papel da jovem Natalie.

Entrelinhas e diálogos interessantes, o filme me fez refletir sobre o amor e a dedicação ao emprego. Nosso trabalho torna-se o segundo lar e os colegas são como nossa segunda família. Passamos mais tempo naquele lugar, com aquelas pessoas, que no aconchego de casa, no colo da mãe ou no afago do(a) companheiro(a). Em função do trabalho temos nossa rotina. Estruturamos o cotidiano e organizamos as tarefas de acordo com o causador de tudo isso: nosso emprego. Assim também fazem os estagiários. O mundo gira em torno daquela grande responsabilidade. Responsabilidade que não nos abandona e nem nos permite cair no tédio. Mas, algumas vezes o dia chega. O dia em que um cidadão senta em frente a nós, que dedicamos a vida toda ao sucesso daquela empresa, e demora menos de 20 minutos para destruir o que construímos em 20 anos. E aí?

Não foi necessário assistir o filme para descobrir que há muitos valores na vida que o trabalho não traz. Quando vi os créditos subirem, minha cabeça viajava. Estava longe. Foi junto com um dos aviões que carregou Ryan praticamente durante todo o filme. Trilha sonora magnífica (sou detalhista e amante de música; trilhas sonoras podem ser decisivas quanto a minha opinião). Vida real em pauta. Planos, sonhos, fuga. Sem clichês enjoados. Um filme de Jason Reitman, o mesmo diretor de Juno e Obrigado Por Fumar. Amor Sem Escalas (Up in the Air, 2009). Preciso dizer que recomendo?

fevereiro 11, 2011

Sexta-feira 11


Presa no trabalho. Cansada. Ilhada. As costas pesam, o olhar não consegue ficar muito distante do cronômetro. Se der mais um drop na fita vou libertar o grito preso há tantas horas no peito. Suspiro pesado. Ai, trancou a fita. Mas não gritei o suficiente. Sexta-feira é dia de descanso, não? A gente passa o dia todo ansiosa pra que chegue a hora do sol se pôr e de bater o ponto. Desejar aos colegas um bom fim de semana com um sorriso no rosto, ter aquela sensação de descompromisso por, pelo menos, dois gratificantes dias. Podia ser assim sempre! Pena que sempre é rara excessão. Tomada por um cansaço que logo se transforma em mau humor, "verde" de tantas rodadas de chimarrão, nervos a flor da pele. Pouca coisa conforma, quase nada conforta. Não há o que fazer, senão esperar. Enquanto isso, subitamente, começa a pensar na vida. Ah, não! Pensar na vida com todo esse stress? Mas, era inevitável. Ouvia uma música, olhava pro computador do lado, a fita não dropou ainda. Bem que podia ter sido tudo bem diferente... Por que as pessoas são tão diferentes? Pra mim, é tudo tão simples, tão... Oito ou oitenta. Meio termo não quero, de metades não vivo. Titãs tem uma música assim, né? "A gente quer inteiro e não pela metade" Ou a letra é quase isso. Põe mais água a ferver. O sol se pondo. Espetáculo natural a parte. A fita rodando. O coração palpitando. O estômago reclamando. Os olhos quase fechando. A cabeça explodindo. E nem posso ficar em casa, combinei de sair com a Kaká e a Paulinha - que saudade da alemoa! Espero ver ninguém desagradável hoje. Incrível como, de repente, alguém que só fazia bem, mesmo quando faz o próprio bem, traz o mal. Rancorosa. Instável. Intensa. Se 'eu te amo' não é 'bom dia', 'casa comigo' não é 'dorme bem'. Depois eu que sou debochada... Ó, a fita não dropou. O motorista chegou. Até segunda-feira, estágio!

fevereiro 10, 2011

Espelho, espelho teu

Ela foi fria
Depois de ter sido tão quente
Levantou com pressa
Limpou o calor com olhar indiferente
Vestiu as peças despida de calma
Pode fumar?
Sentou
Acendeu o cigarro
Olhou fixo a rachadura na parede
Parada, tragou
Levantou
Vou indo, se cuida
Não esperou resposta, bateu a porta
Na cama ela deixou
Sozinha sem entender
Chorando pra desabafar
Ela, sem culpa daquele pesar

fevereiro 09, 2011

Do vinho pra água

Às vezes, quando calada, me sinto sozinha. Uma solidão tranquila de uma paz que não encontro fora. Fico calada porque estou farta de pensamentos e não tão cedo devo transformá-los em palavras. Porém, se por muito tempo sigo calada o pensamento engana enquanto o olho perde o foco. Quando dou por mim, já estou cansada de tanto viajar.


Mãe, tô voltando pra casa. Não quero mais brincar. Esse mês foi muito difícil e ainda nem aprendi a cozinhar. As paredes não são amarelas, a bagunça não tem história, o fogão está muito sozinho e a cama é grande demais. O ursinho e a Tati em cima do travesseiro me fazem sentir patética. A sede de independência colidiu com a ideia de ser dona do meu nariz que, embora pequeno, dá um trabalho imenso pra uma só pessoa. Agora eu entendo. Entendo por que brigavas, o motivo das tuas lágrimas, os silêncios agudos. Eu nunca fui fácil. E nunca tentei, só queria me dar bem. Batalhava pela minha dignidade em redações, buscava uma felicidade cinematográfica e cantava alto as músicas que descreviam minha situação. Eu era um prato cheio pra um abraço faminto. De carente passei pra careta. Não vejo televisão sem usar óculos, não bebo mais cerveja e nem fumo mais cigarro. No computador procuro cultura e nas conversas conteúdo. As risadas dimuíram o tom e o olhar sóbrio conquistou a noite. Noite de filmes, reuniões tranquilas, silenciosas. Noites que fazem o dia ser um lugar proveitoso não apenas pra pagar as contas, mas também pra praticar exercícios e manter a saúde em dia. É, mãe, essa vida nem parece ser minha. Ainda ontem esperava ansiosa pelo dia em que ele iria chegar, fazia barulho com o salto, ficava embriagada e jogava cigarro no ar que outra pessoa respirava. Cansei, mãe. Acho que é isso: cansei.


Calei demais o que senti em excesso. Quando vi já não enxergava. Quando lavei o rosto já não tinha mais juventude pra limpar. Quando acordei a ressaca parecia não ter fim. Foi quando abri os olhos, saí e, a partir de então, me calei.