fevereiro 09, 2011

Do vinho pra água

Às vezes, quando calada, me sinto sozinha. Uma solidão tranquila de uma paz que não encontro fora. Fico calada porque estou farta de pensamentos e não tão cedo devo transformá-los em palavras. Porém, se por muito tempo sigo calada o pensamento engana enquanto o olho perde o foco. Quando dou por mim, já estou cansada de tanto viajar.


Mãe, tô voltando pra casa. Não quero mais brincar. Esse mês foi muito difícil e ainda nem aprendi a cozinhar. As paredes não são amarelas, a bagunça não tem história, o fogão está muito sozinho e a cama é grande demais. O ursinho e a Tati em cima do travesseiro me fazem sentir patética. A sede de independência colidiu com a ideia de ser dona do meu nariz que, embora pequeno, dá um trabalho imenso pra uma só pessoa. Agora eu entendo. Entendo por que brigavas, o motivo das tuas lágrimas, os silêncios agudos. Eu nunca fui fácil. E nunca tentei, só queria me dar bem. Batalhava pela minha dignidade em redações, buscava uma felicidade cinematográfica e cantava alto as músicas que descreviam minha situação. Eu era um prato cheio pra um abraço faminto. De carente passei pra careta. Não vejo televisão sem usar óculos, não bebo mais cerveja e nem fumo mais cigarro. No computador procuro cultura e nas conversas conteúdo. As risadas dimuíram o tom e o olhar sóbrio conquistou a noite. Noite de filmes, reuniões tranquilas, silenciosas. Noites que fazem o dia ser um lugar proveitoso não apenas pra pagar as contas, mas também pra praticar exercícios e manter a saúde em dia. É, mãe, essa vida nem parece ser minha. Ainda ontem esperava ansiosa pelo dia em que ele iria chegar, fazia barulho com o salto, ficava embriagada e jogava cigarro no ar que outra pessoa respirava. Cansei, mãe. Acho que é isso: cansei.


Calei demais o que senti em excesso. Quando vi já não enxergava. Quando lavei o rosto já não tinha mais juventude pra limpar. Quando acordei a ressaca parecia não ter fim. Foi quando abri os olhos, saí e, a partir de então, me calei.

Um comentário:

Anônimo disse...

Pobre da Tia. Deve ter passado por cada uma com essa fedelha!
Ainda bem que tá virando mulher!
Muito bom o texto amiga =] Um dia podes escrever um livro com os teus posts!

bjao