abril 27, 2009

Café com açúcar


Hoje, no caminho para casa, ouvi uma velha conhecida na rádio. A música. Aquela. A que cujo par martelava na minha cabeça, fazia barulho no telefone e batucada no meu peito. Hoje ela não teve par. Estava sozinha. Em mim, no pensamento e no coração. Meus tímpanos a absorveram pura, límpida, heterogênea. Eu sabia que agora ela era apenas mais uma, apenas a próxima, a que recém tocou, a que ouço no agora. Sem ser especial. Sem ter significados. E depois de tanto tempo, me senti livre. Livre de não associá-la a mais nada. A ninguém. Mas, também senti um vazio. Uma "coisa" oca por dentro. Senti não sentir. Uma liberdade mais parecida com solidão. A música não tinha mais par, assim como eu. Éramos nós duas. Ambas cantando no ritmo; eu sabendo mais sobre ela do que ela de nós - antigamente parecia nos conhecer tão bem. Porém, não havia mais nós. Havia eu. E a cidade. E as pessoas. E as gargalhadas. E os planos. E os sonhos. E... é, reticências. Tanto destratei aquele par que ele abandonou a música. Injustiça? Não, ele fez o certo e eu achei que sabia o que fazia. Ainda era meu, de alguma forma. Ainda era dele, mas só eu sabia. Hoje descobri o que é esquecer. Descobri que esqueci. Que guardei tão abaixo de meus pés aquele sorriso, até que ele cavou uma passagem e encontrou seu novo repertório. Pode não ser o preferido ou o melhor que ja compôs, mas este ele sabe que não vai parar de tocar de repente, como o meu costumava fazer. E eu? Bem, eu continuo vivendo as ironias que derrapam no meu caminho, ouvindo as músicas que as estradas me oferecem, sem impôr poesia alguma a quem quer que seja. Não sei se aprendi algo. Encontrei tantos devaneios enquanto ele trilhava sua sorte sob meu reino de ilusões, que agora, só me resta trocar de pista. Não quero lembrar. Não quero esquecer. Quero não pensar. Um dia a música encontrará seu par, mas eu não a ouvirei. Não mais. Continuo tão conservadora e romântica quanto antes, só que, mais esperta e menos egoísta.