setembro 18, 2012

Tempestade inconsciente

Em dias de chuva percorremos corredores internos e abrimos portas de lugares que não visitamos com frequência. Geralmente, são quartos escuros. Ambientes cheios de poeira que, por alguma inclinação, não recebem atenção frequentemente. A chuva nos coloca em posição direta de reflexão. Se a rotina não permite este foco os intervalos entre tarefas se encarregam de fazer a mente voar. Dia de chuva é dia de faxina.

Quando damos por nós estamos fitando as paredes, esperando respostas. Respostas que não vêm de perguntas conscientes. Esperamos entender coisas, pessoas e situações que em dias de sol aceitamos não terem razão ou sentido. Aceitamos porque ignoramos. Quando há chuva não há espaço para pensamentos rasos. Acredito que dias cinzas chegam, ironicamente, para iluminar. Ao fazermos esse passeio interno reconhecemos cada enfermidade. Focamos no que foi interrompido e, com sorte, conseguimos sarar alguma dor.

Nuvens escuras nunca se instalam sozinhas. Basta observar. Elas precisam umas das outras, como uma família. Como ovelhas que sempre andam em grupos. Talvez o motivo seja a própria fragilidade de uma nuvem. Sozinha ela não se sustenta. Não se encontra. Sozinha ela apenas vaga no céu. Vaga como o sensível cordeiro quando é separado de seu rebanho. Não há nuvem que resista ao sol. O choro de todas elas juntas, durante a tempestade, é quase desesperador. No entanto, ele não é retórico. Há momentos em que só a força de uma enorme tempestade para nos fazer realocar a intensidade que tanto depositamos em coisas, pessoas e situações erradas.

setembro 13, 2012

Tanto


Tem dia que pesa mais. Tem fase que a cruz parece de ferro. Tem noite que a nuvem atrai mais que a lua. Tem hora que o relógio parece parar. Tem momento que a escuridão sobrepõe a luz. Tem suspiro que precisa de silêncio. Tem silêncio que parece enlouquecer. Tem surto que é doentio. Tem lágrima que parece inundação. Tem gente que não sabe chorar. Tem excesso que borra o sangue. Tem sangue que precisa de agulha. Tem agulha que assusta olho. Tem olho com medo de pele. Tem pele de tanta cor. Tem cor que falta em tanta gente. Tem tanto que é tão pouco. Tem tão pouco que é sempre quase. Tem tanto dentro de mim. Tanto que precisa ser suave. Tem nada que é libertador. Tem gente que entende nada. Tem tanto que mancha a gente. Tem mancha que só fogo apaga. Tem fogo que parece não aquecer.