março 29, 2008

(à esquerda)

será que aqui existe um coração? (talvez ali...) pra que serve? (serve pra quê?) que adianta existir sem viver? (que estranho é amar sem sofrer...) será que é isso? (afinal, o que é isso? - ou a início.)
e agora, pra onde a gente vai? a gente eu não sei. eu vou pra lá. (nem aqui nem ali; lá. já sabe, né?)

Febril

e lá estava ela. a tal dita. dita que ninguém falava. não era bem dita, não era mal dita. apenas dita. falava para si, enxergava sua espera. via, de longe, um trem cego que percorria suas entranhas, agitava seus instintos, confundia sua cabeça. uma confusão envolvente, uma bruma sem nome. com nada. estava despida de seus pudores, de suas fantasias cotidianas. vestia apenas um arrepio que vinha da nuca até a canela. (ou seria o contrário?) os pés estavam inquietos. os olhos viam o negro de uma pausa. o coração sentia encostar no peito aquela mão. parecia que ia quebrá-la por inteiro. os cabelos eram longos - nem tão atraentes -; os lábios que deixavam-na curiosa. olhos que acertavam-na feito punhais. esquartejou-se em mente. mentiu sobre o que era aquilo. aquele. aquela. dita. bendita seja a noite - esta. maldita ansiedade - a dita. sorte encontrarem-se. destino cruzarem-se. os copos continham veneno, mas nada era mais perigoso que aquela voz cuspindo palavras embrulhadas em lâminas. veneno é o tempo. ela era só mais uma. nome não sabia; nem interessava. apenas não queria acordar. sabe-se onde? lá?

março 27, 2008

Fecho as portas. Escondo-me entre paredes. Abro a mente. Tento resgatar um passado mal resolvido, um tempo que dei e que nunca concluí. Agarro-me ao volante, piso no acelerador, apago o carro, não coordeno os movimentos. Freio. Tarde, mas freio. Caos. Medo. Insegurança. Decepção. Onde estava minha cabeça? Não poderia estar com ela, não parecia ser possível. Mais uma noite brincando com o desconhecido, mais uma vez dando de cara – quase que literalmente – no concreto. Quase. Tem gente que gosta do estrago, eu nunca me senti atraída por tal. Eu gosto de me entregar ao momento, deixar que ele me guie na mais avassaladora dança ou na mais cruel esquina. Não gosto do estrago. Já estraguei diversas vezes e isso não me trouxe nada de bom. De repente acabei por entregar-me a momentos não tão certos; porém, não me entreguei em vão. Levo comigo, sempre, algo de qualquer momento, sejam lágrimas ou sorrisos. Aprendo. Cresço. Carrego histórias. Adquiro experiência. Não sai barato – se vale a pena correr o risco, não há preço a ser calculado. Acordei menos teimosa. Temi. Chorei lagos. Depois ri. E ainda, rio. Pode nadar a vontade, aqui ninguém afoga-se sem querer. O passado ficou pra trás e em um único estalo – e digo de estalo – ele parou de me engolir. Acelerei antes de frear. E acelerei tarde.

março 20, 2008

About Her.

Tudo em seu mundo era colorido e quebrado. Fazia magia com o sorriso e desvendava com a intuição. Com os olhos, adormecia e acordava. Olhos que eram negros como noite sem luar, e quando expostos à luz do sol tinham a cor da terra. Ria com eles; chorava com os mesmos. Gritava, expulsando, de si, seus demônios. Ela os tinha em grande número. Eles não a abandonavam sem que ela os expulsasse - fosse com um grito ou um singelo sorriso. Sabia sorrir como poucos - e adorava -; não que fosse difícil sorrir, mas ela ria de si mesma, de sua desgraça e de suas vitórias, da alegre e amarga realidade que a cercava. Nada estava perdido. Gargalhava à vontade. Observava na espreita. Falava baixinho, falava pouquinho. Ao repôr as energias falava rindo, debochava falando. Era, misteriosamente, presa em si mesma. Tinha sempre uma palavra de conforto, uma palavra amiga, uma palavra necessária. Quando precisava, procurava em si essas mesmas palavras que dizia aos amigos, mas não as encontrava. Então, escondia-se em um vazio interno, sentava a cabeça, repousava o coração. Esvaía-se em lágrimas. Levantava o corpo com a alma recomposta. A luta continuava e a vida era bem ali.

março 14, 2008

"Back to black?"



As lágrimas escorriam pelo meu rosto. Nem precisei levantar a cabeça para perceber que a lágrima havia se confundido com a chuva. O céu inteiro chorou comigo. Minha blusa que camuflava verde, camuflou céu. Camuflou cinza. Todos corriam e eu não. Não tinha pressa para nada, a ferida não iria curar se eu corresse. Foram gotas, apenas gotas. E eu precisava de um céu em prantos, derrubando água de nuvem a nuvem. Não aguentei; já não aguentava. De repente, as cápsulas não pareciam tão péssima idéia. Já as tomava para dormir uma noite, duas, três. Quantas, delas, eu precisaria para dormir todas as noites, de uma vez? Os prédios agora projetam sombra. O céu parou de chorar, mas eu não. O pranto que eu desejei para o céu é meu. Parece que os dias escuros estão de volta.

março 12, 2008


O que escrever quando a cabeça está cheia de pensamentos incompletos?

Posso começar por esquecer. Quando começa-se a esquecer? Quando a retina irá cansar-se das mesmas cores que a apedrejam de prazer e desgosto? Será que minha retina gosta de rotina? Se gostar, não posso contar com ela para esquecer. Posso contar com a distância! Pois, aquilo que os olhos não vêem, o coração não sente. Certo? Não.

E a mente? Se o que a retina não alcança, o órgão responsável pela minha vida não percebe, qual seria a função da mente? Fora o fato de ela me contrariar a cada instante. (Claro, digo isso como ser incontrolavelmente pensante) E o meu livre-arbítrio? Se eu sou livre para fazer aquilo que quero e minha vontade é esquecer, por que não consigo? Por que meu livre-arbítrio não se aplica a mim mesma? Se tudo fosse apenas uma questão olhos-coração, o mundo seria um grande The Sims e Einstein um extra-terráqueo - se é que não foi. Na realidade, fica fácil o homem reduzir a si próprio em simplicidade de anseios e ditos, tal o seu medo em descer às suas profundezas.

Sou feita de complexidade – não acho que seja a única, definitivamente - e uma mistura de pensamentos contraditórios. Poderia passar horas discutindo com minha mente sobre tudo que aprendi nos livros, porém que nunca entendi. O dia que parar de me contrariar, já posso dormir. Sei o que é a definição do amor pelos meus colegas e minha professora de Comunicação e Psicologia. Porém, que tanto sabemos, nós, meros seres humanos – muitas vezes vítimas da angústia solitária - sobre o amor ou qualquer outro, denominado, “sentimento”? Sei que amar é oferecer sem pedir nada em troca; sem querer em troca. Sei? (Ditos, ditos, ditados...)

Quem me fez em mente, pupila e coração?


Ainda
não sei esquecer, mas consigo não lembrar. Nunca. Sempre. Ainda.


Comecei por esquecer e não lembrei de terminar. (Mas, por que TUDO tem que ter fim?) Será que esqueci? Ponto pra mim.